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sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

SOBRE SUAREZ, O GRÊMIO E O CAMPEONATO

O Grêmio realizou a maior contratação de todos os tempos no RS e uma das maiores do futebol brasileiro na história. Suárez está entre os jogadores mais diferenciados de todos os tempos. Hoje, somente três contratações suplantariam a sua: Messi, CR7 e Neymar. Portanto, algo impensável para os padrões brasileiros.

Como sempre defendo, o futebol vive de... futebol. Não é de politicagem, de economia besta, etc.

Pra ganhar tem que investir (bem).

Agora, vou morder e assoprar: o Grêmio só chegou à vice-liderança por causa de Suárez.  Sem ele, brigaria contra o rebaixamento. Na minha opinião,  só temos (tínhamos) 4 jogadores acima da média: Suárez,  João Pedro, Villasanti e Ferreirinha. O resto, muito aquém do minimamente razoável. A zaga é inexistente. 

Mas o Grêmio não foi campeão por vários fatores. Os principais: 

- elenco fraco e a contratação - e consequente utilização de rascunhos de jogadores como J P Galvão, André e CIA;

- o fracasso de investimentos como Cristaldo e Carballo;

- a eterna teimosia de Renato com Grando e seus outros bruxos, e sua arrogância em nunca estar errado. Aliás,  dizem ser um excelente gestor de grupo,  mas o que ele tem feito muitas vezes é queimar bons jogadores. Sou gremista, não sou renatista. Aliás, o teria demitido no episódio pós Grenal;

- os inúmeros prejuízos ocasionados pela arbitragem;

- a novela promovida pelo próprio Suárez,  que forçou sua saída e fez o Grêmio perder o foco e decair muito naquele momento, influenciando inclusive Bitelo, que passou a jogar desleixadamente, até ser negociado (isso ninguém lembra);

- a perda do Bitelo.

Uma citação especial ao episódio "Caleffi", onde a Diretoria demonstrou inabilidade total, uma vez que Caleffi não merecia o tratamento recebido. O tricolor deve muito de 2023 à sua dedicação e trabalho. 

Suárez é gênio. Mas eu me lembro.



sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

UM POEMA NO SUL


 

OS "DEZES"... VOU TORCER PARA A ARGENTINA

Eu torci muito pra Neymar ganhar uma Copa. Especialmente essa. Acho que ele merece, pelo gênio da bola que é, por ser o maior jogador brasileiro - e um dos maiores do mundo - em atividade há pelo menos uns doze anos. Aliás, ele é um dos únicos motivos pelo qual o futebol brasileiro ainda é celebrado e respeitado mundialmente. Ninguém mais acredita naquela frase enganosa que diz que o Brasil é o país do futebol. Só alguns brasileiros. É bem verdade, fora de campo Neymar às vezes parece não tomar as melhores decisões. Mas isso não influencia em nada o seu talento nos gramados. Estou falando de talento. O desempenho, talvez, em alguns poucos momentos. 

Mas é muito recalque e mimimi em cima do cara. 

Eu torci muito para o Brasil vencer essa Copa. Mas estava visto que não ia dar. Que não iria acontecer. A sensação de que não há um comando eficiente é muito forte, é muito presente. Quando o técnico acha que existe a possibilidade de vencer apenas pelo talento, sem um mínimo de garra e coletividade, o sonho se torna inviável. Coletividade não é todo mundo se abraçar e se amar. Coletividade é, mesmo a contragosto, fazer o que precisa ser feito por um objetivo comum. Há tempos o Brasil não tem coletividade.

E também não tem esse talento todo que os últimos técnicos entendiam que tinha.

No futebol, é preciso começar pelo básico. E o básico numa seleção é convocar os melhores. Por exemplo: quando temos Daniel Alves convocado e Scarpa sequer cogitado, já é possível prever o insucesso. Não somente por esses fatos em si, mas principalmente pelo "modus operandi" que eles escancaram. 

Neymar é um 10 genial que caiu numa geração que não lhe oferece parceiros à altura na seleção. E nem um técnico suficientemente inteligente que consiga montar um time competitivo. 

Jogadores habilidosos que têm que marcar, marcadores que têm que armar jogadas, improvisos. Isso como regra em uma seleção é a chave para o insucesso. Tem sido a nossa chave.

O Brasil não evoluiu no futebol. Não avançou um milímetro no entendimento desse esporte, ao contrário das outrasseleções. Segue produzindo bons jogadores, mas ultimamente nada de excepcional. Neymar é o último 10 de respeito que surgiu nos últimos tempos. É o único extra-classe que temos. Um dos jogadores mais caros e bem pagos da história, respeitado e reverenciado pelos maiores gênios do futebol, sejam eles jogadores, técnicos ou comentaristas. Mas é incrivelmente odiado pelos brasileiros. Porque pinta o cabelo, porque é rico, porque faz dancinha, porque respira, porque apanha...

Pra mim, isso é surreal.

O último dez do Brasil, até que tenhamos um milagre. 

Dito isso, vou fazer algo que não fiz até hoje: torcer para a Argentina. Não pela Argentina, mas por Messi. Os hermanos costumam jogar um futebol que não me agrada. Confundem raça com jogo sujo, são demasiados prepotentes e deselegantes. 

Mas vou abrir uma exceção. Messi está em outro nível, outra prateleira. Consagrado o melhor jogador da história depois de Pelé, ainda não venceu uma Copa, o que o torna também incrivelmente questionado em seu país - e no mundo - apesar de tudo o que já conquistou. 

Messi é o oposto daquilo que habitualmente caracteriza os hermanos: é humilde. 

Messi é o grande gênio da era moderna do futebol. E um dos maiore de todos os tempos. Estamos presenciando os últimos atos de uma carreira sem retoques, de um ser humano diferenciado, muito acima da média. A história sendo escrita.

Jamais torceria para Mbappé, que para mim representa tudo aquilo que os brasileiros dizem detestar em Neymar: é mimado, arrogante, prepotente. E não serve nem pra amarrar as chuteiras de Neymar, nem de Messi.

Eu pensei que não era possível, mas é. Vou torcer para a Argentina. 

Os deuses do futebol devem uma copa para o Messi. Que seja paga no domingo. 

E que haja tempo para pagarem Neymar também. 

Messi tem 7 bolas de ouro. Deveria ter cinco.ou seis. Neymar não tem nenhuma, merecia ter conquistado duas. Coisas do futebol. Dois gênios cujos talentos dificilmente serão equiparados tão cedo.

Cristiano Ronaldo é exuberante. Mas não é um dez.

Que a vitória da Argentina sirva de lição para o Brasil. 






quinta-feira, 21 de julho de 2022

OS AMIGOS PARTEM

É fato, os amigos partem. Mas isso não é surpreendente, embora sempre nos cause espanto. Partir é da vida. Chegadas necessitam de antônimos. Ao longo de nosso tempo, aprendemos a conviver com as adversidades,  com as contrariedades, com despedidas. Mas nem sempre.

Os amigos partem. Partir é do jogo. Contudo, a partida de um amigo carrega consigo uma peculiaridade: ele vai, mas fica. Nós ficamos, mas ele nos leva. Um amigo de verdade tem o poder de habitar na gente. Uma amizade verdadeira cria uma simbiose única. Não há  obstáculos que enfraqueçam o sentimento que une amigos de verdade. O laço da verdadeira amizade é indestrutível, incorrompível, inquebrantável. Por isso é possível ser amigo mesmo distante. Sabemos com quem realmente podemos contar, e não precisamos ter a presença física para termos essa certeza.

Amigos de verdade brigam sim, divergem e são capazes de dizer aquilo que outras pessoas jamais diriam: a verdade. Amigos buscam a reconciliação. Amigos de verdade cuidam, sentem saudades, são duros às vezes, mas respeitam a individualidade, têm empatia e querem o bem do outro sem exigir nada em troca. Talvez, apenas reciprocidade. E é  justo.

Amizade de verdade resiste ao tempo, a distância e se mostra essencialmente na necessidade, na precisão, na escassez, na dor.

Os amigos partem. E não só para outra cidade, estado, país. Não só geograficamente. Eles partem também desse mundo terreno. Essa é a partida mais difícil, mais doída, mais devastadora. 

A vida também têm seu antônimo. A morte é  chocante, não só por ela em si, mas muito pelo que deixamos de fazer por alguém Oi com alguém. 

Por que marcamos um churrasco e nunca o fazemos? Por que adiamos aquela cerveja e o bate-papo descompromissado? Por que pensamos em ligar e não ligamos? Por que não priorizamos aquelas mensagens simples, mas que demonstram atenção e afeto?

Os amigos partem. Estão partindo todo dia. Geograficamente e deste plano.

Quem são nossos amigos? Somos amigos de quem?

Preservemos os amigos. Se forem poucos, mais fácil ainda de cuidar.

Cuidemo-nos.

Nós também partimos.




domingo, 6 de março de 2022

A GUERRA

Assim como toda a briga, toda a guerra é insana. Só existe justificativa na defesa. De resto, é a demonstração derradeira de retrocesso, de involução, de incapacidade de diálogo, de liderança, de arrogância,  prepotência. É a personificação e o encampamento da maldade.

Há décadas sabemos que a primeira vítima em uma guerra é a verdade. Aliás, essa frase inspirou o título do livro "A Primeira Vítima", que contém 600 páginas onde o jornalista, correspondente de guerra e também especialista em espionagem Phillip Knightley, relata como o jornalismo colabora com essa questão triste, usando e sendo usado para disseminar mentiras durante conflitos. Na guerra, cada lado tenta distorcer as informações e os fatos, com contorcionismos muitas vezes bizarros,  a fim de levar vantagem sobre seu oponente. 

Tudo muito errado, muito insensato, mas seria menos ruim se não existissem outras vítimas.  Vítimas de carne osso. Que sangram. Que perdem entes queridos. Que perdem sua liberdade, seus direitos, sua dignidade.  Que morrem. Que diferentemente da verdade, muitas vezes não podem ser resgatadas.

Vivemos em um mundo habitado por quase 8 bilhões de pessoas. Vivenciamos o avanço magnífico e inconteste da ciência e da tecnologia mas, em contraponto, parece que avançamos a "passos de lesma" no quesito empatia, nas questões humanitárias, de solidariedade e fraternidade.

Isso ficou claro demais durante a pandemia, onde bilionários ficaram ainda mais ricos e o trabalhador assalariado, a classe média e as pessoas em situação de vulnerabilidade ficaram ainda mais pobres. Os bilionários do mundo têm mais riqueza do que 60% da população mundial.

No Brasil, estudos revelam o seguinte:

1. Os 10% mais ricos no Brasil ganham quase 59% da renda nacional total;

2. Os 50% mais pobres ganham 29 vezes menos do que os 10% mais ricos;

3. A metade mais pobre no Brasil possui menos de 1% da riqueza do país;

4. O 1% mais rico possui quase a metade da fortuna patrimonial brasileira.

Estamos em pleno século XXI. Dados como esses são alarmantes. O que isso tem a ver com as guerras? Tudo, simplesmente tudo.

As guerras nascem pela ambição e a busca desmedida por poder, por dinheiro, as custas de subjugação e desigualdades.

Hoje estamos estarrecidos com a guerra na Ucrânia, mas o mundo vive em guerras "eternas". Apenas não há essa divulgação toda. A África é um continente assolado por conflitos internos e externos, por exemplo.O Iêmen, um dos mais pobres entre os países árabes, está há anos numa violenta guerra civil.

Grandes potências, em especial os EUA, patrocinam e incentivam a guerra ao redor do mundo. E já foram vítimas dessas suas atitudes inqualificáveis. O planeta ainda convive com ditadores que simplesmente impõem sua insanidade ao seu próprio povo.

Muitos ainda alimentam o sonho de subjugar outras nações,  como se fazia antigamente, de forma bárbara e atroz.

O mundo faz vistas grossas quando quer.

Fazemos isso quando não é no nosso quintal.

O problema é que hoje em dia tudo é quintal. Mais cedo ou mais tarde, a guerra pode bater à nossa porta. Seus efeitos e consequências já o fazem.

O ser humano parece ter uma mola propulsora nos seus instintos para a guerra e o conflito. "O que é demais nunca é o bastante", já dizia Renato Russo. 

Nós, habitantes "comuns" desse planeta que está sendo destroçado por aqueles que dependem dele para viver, assistimos impotentes, estarrecidos e resignados a morte de milhares de irmãos.  

Pais se despedem de suas famílias rumo à um caminho de dor, muitas vezes sem volta. 

Hospitais são destruídos, mulheres e crianças são estupradas e mortas, idosos sao empilhados nos escombros.Cultura, arte e história de nações são riscadas do mapa, sem um mínimo de arrependimento, no auge da insensatez.

Na guerra, a vida não vale um vintém.

Na guerra não há vencedores, pois os conceitos não condizem com humanidade. 

Está claro que não precisamos de governantes. Necessitamos de líderes de verdade.

Somos culpados por essas guerras. E pelas guerras que estão por vir. Seja por ação, seja por omissão.  Somos culpados por não fazermos nossa parte,  por alimentarmos essa cultura do medo, da barbárie, do poder, de desigualdade. 

Que um dia os exércitos do mundo sejam de paz.

Oremos.

#guerra #paz #humanidade #fraternidade #Ucrania #russia #EUA #mundo #desigualdade #morte




segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

ASSIM SEJA

 A impressão  de que a vida passa ligeiro demais é cada vez maior. Seu término é a colheita... 

Estamos numa fila eterna, e não necessariamente respeitando uma ordem racional para deixarmos esse mundo, para findarmos nosso tempo terreno.

Termos um propósito parece ser a grande missão. Criar pontos de crescimento e evolução,  motivar pessoas. Causar sorrisos,  fazer a diferença,  semear o bem, plantar amor.

Desenvolver a mágica de transformar e eternizar momentos.

Por vezes nos arrependemos por acreditarmos demais, apostarmos demais, entregarmos demais. Mas triste mesmo é para quem não enxerga ou valoriza isso. Amor, cuidado e trabalho em excesso não são pecados, são atenuantes de uma vida que nunca é fácil,  excludentes e equilíbrio frente a questões menores, sob o ponto de vista do egocentrismo, da prepotência,  da arrogância, da ganância e da maldade, em uma passagem onde ser pouco certamente não basta. São sinônimos de "ser melhor".

O tempo das coisas ainda não é de nossa compreensão. Sigamos na fé. 

Doar-se sem esperar nada em troca talvez seja o segredo. O segredo da vida. E da eternidade,  por que não?

Acreditemos primeiramente em nós. E espalhemos o sentimento de podermos mais aos nossos irmãos. 

A fila realmente anda. Não sabemos o dia da partida. Talvez nem seja preciso que a fila avance para que isso aconteça. 

Façamos nosso melhor, para nós e para os outros. 

Deus provê. 

Que nossos passos, nossas pegadas e nossa história remetam a um caminho de boas lembranças,  de bem-querer, de pertencimento, de acolhida, de paz e amor.

Assim seja.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

PASSO A PASSO

 Economizar vinte reais é melhor do que os trezentos reais que nunca poupamos, assim como dez minutos de caminhada ajudam mais a nossa saúde do que a corrida de uma hora que nunca fazemos.

Meia hora de leitura diária é infinitamente mais produtiva do que a maratona de estudos que não colocamos em prática.

Com certeza, cuidar do próprio lixo traz mais benefícios ao mundo do que aquele projeto



ecológico que nunca sai do papel.

Não tenho dúvidas de que ajudar uma ou duas pessoas na prática espalha mais amor e humanidade do que as críticas e ideias proferidas no conforto de um sofá.

E aquele final de semana simples mas alegre com a família e/ou amigos? Indubitavelmente traz mais felicidades que aqueles planejamentos elaborados que nunca são realizados.

Sem sombra de dúvidas, ser de verdade e mais justo com quem nos cerca é infinitamente melhor do que ser uma utopia para milhares na Internet. 

Melhorar um pouco a cada dia, evoluindo passo a passo. Apesar das falhas, dos medos, das imperfeições. Corrigir o rumo, reconhecer os erros e trabalhar firme para corrigí-los. Doses diárias de atitude.

É um caminho difícil,  mas sem volta. 

Talvez, lá no fim, não nos reconheçamos. E que bom que seja assim.

Caine Teixeira Garcia 


Imagem Google/internet.





domingo, 23 de maio de 2021

DOUGLAS COSTA É 10, MAS DEVERIA SER 7

Finalmente Douglas Costa foi anunciado no Grêmio. A maior contratação do futebol do Rio Grande do Sul é tricolor. Com um detalhe extremamente importante: o jogador abriu mão de quase dois milhões de reais mensais para fechar com o seu time do coração. Negociou diretamente com dirigentes de Bayern e Juventus, deu declarações públicas, afiançou a palavra e cumpriu. Craque com mercado para atuar na Europa, Douglas Costa realmente esmerou-se para voltar ao maior do Sul. Trata-se de um momento verdadeiramente épico. Alguns diriam: "por 1 milhão e meio até eu viria". Eu pergunto: quem abriria mão de quase dois milhões mensais, com contrato garantido?

Não,  meus amigos. Definitivamente não é um fato comum. É digno de aplausos eternos. 

O "homem do raio" vendeu, em apenas 3 horas, 7 mil camisetas, o que representa um montante de mais de 2 milhões e meio de reais. Um fenômeno que enche de orgulho a nação gremista. 

Douglas ligou para Jean Pierre e, humildemente, pediu para utilizar a camisa 10 do Grêmio. Digo humildemente porque um jogador com seu histórico, depois de tudo que fez para viabilizar o negócio, certamente não necessita pedir algo assim. Obviamente   foi atendido. 

Contudo, muito particularmente, eu defendo que o Douglas, embora tenha optado pela 10, merecia mesmo é jogar com a 7. A mesma que fardou o maior ídolo do clube, Renato. A mesma que consagrou Paulo Nunes, Tarcísio Flecha Negra e mais recentemente o reizinho Luan. A 7 no Grêmio é mística, tem história,  tem peso. Hoje farda Matheuzinho, que está longe de merecer a honraria, infelizmente. 

Douglas Costa deveria ser o 7 do Grêmio,  independentemente da função ou posição que for atuar. Mas escolheu a 10. E tudo bem. É um 10 com alma de 7 tricolor.

Um jogador que merece o máximo respeito por parte da maior torcida do Sul. 

Bem-vindo, Douglas Costa. Arrebenta, garoto.




quinta-feira, 15 de abril de 2021

RENATO PORTALUPPI

Renato é o maior ídolo existente na relação com um clube de futebol. Sua história e  identificação com o Grêmio é tão  gigantesca que confunde-se naturalmente com a do clube. Ou melhor: ele é a própria história do nosso tricolor. Ajudou a imortalizar grande parte dela, e imortalizou-se junto. Como jogador e como treinador no imortal foi competente, vencedor e, sem sombra de dúvidas,  foi torcedor. Um árduo e inarredável defensor do Grêmio e da sua torcida. 

Toda essa inquestionável importância desse que é o maior dos maiores na história do clube acabou por prejudicá-lo durante a sua passagem mais recente como treinador. Foi fácil e cômodo para a Diretoria entregar nas mãos desse gigante muitas e diversas questões que não eram de sua alçada,  enquanto tratavam de quimeras e politicagens. Afinal, Renato tem o respaldo da maior torcida do RS. Ocorre que é praticamente impossível navegar em todos esses "mares" do futebol como timoneiro sem fazer água. São muitas questões e, grande parte delas, esbarra em planejamento e finanças. O ídolo viu-se envolto nas armadilhas que existem quando se quer atingir a perfeição em tudo, quando não se percebe que até mesmo os maiores necessitam de auxílio, precisam ser humildes e podem sim, estarem errados em algum momento. 

Renato foi jogado aos leões, eu diria. Mas conscientemente. Deram-lhe todas as chaves, mas nem o maior dos maiores é capaz de atender a contento tantos problemas e questões.

As sucessões de erros (inevitáveis) decorrentes de uma visão omissa, covarde e acomodada da Direção e de uma soberba e pretensão de Renato acabou com a paciência da torcida. Com a paciência, mas jamais com o respeito e a idolatria por seu maior ídolo.

Coisas do futebol. Não é o fim dessa história, apenas o fim de um ciclo que se renova e, tenho certeza, trará novamente Renato Portaluppi para a Arena e para novos títulos, consagrando e consolidando mais uma vez o maior dos maiores.  Eu pedi muito a sua saída agora, e estarei feliz quando for o momento de pedir o seu retorno. 

Era necessário e ele sabe disso,  como necessário é o nosso reconhecimento e agradecimento a esse gênio do futebol. 

Obrigado,  REINATO.

Estaremos juntos em breve.




terça-feira, 6 de abril de 2021

O CABELO DO JOÃO


É sempre muito complicado opinar sobre assuntos polêmicos, mas eu vou exteenar o que acho sobre a polêmica de ontem no BBB:

Primeiramente, é preciso dizer que foi uma AULA de comportamento social e entendimento sobre as dores do outro, como já disse antes. Mal ministrada, mas foi. Ao vivo. Muito aprendizado a quem se prestar a ver e ouvir. 

Há quem banque  o "intelectual" e jure de pés juntos que não assiste o programa,  que esse programa é um lixo, etc, etc. Eu discordo plenamente desse entendimento, tendo em vista que o BBB é um recorte da nossa sociedade, exatamente como ela é. Se aprende muito vendo o programa, que mais do que entretenimento é a exposição do ser humano,  com suas virtudes e fraquezas e, consequentemente, do meio em que vivemos. 

Voltando ao assunto, é preciso entender a dor e o sentimento do João, pois como negro e indivíduo personalíssimo é algo que somente ele pode mensurar e dar valor.

Contudo, passado o momento, onde Rodolffo ingenuamente ou atrapalhadamente conseguiu piorar sua situação, trago para reflexão o seguinte: 

Me parece estar claro que João viu sim no episódio uma forma de militar nacionalmente e ao vivo sobre a questão racial. Do ponto de vista educativo, social e até moral, ok. Contudo, do ponto de vista humano e de bom senso, achei a atitude equivocada e até um tanto oportunista, uma vez que utilizou o colega/adversário de confinamento como uma espécie de "bode expiatório", onde jogou frustrações e traumas pessoais de uma vida inteira, tendo como alvo uma pessoa que não é responsável por isso.

Quem viu a cena que causou tudo sabe, com toda a certeza,  que Rodolffo não foi racista ou preconceituoso,  pelo menos nãoconscientemente. Foi bobo, como um piá de colégio, foi ingênuo por julgar ter uma intimidade que não tinha, foi inoportuno e até mesmo pode ter sido insensível,  uma vez que não cogitou ou percebeu que poderia magoar João. Com certeza lhe faltou empatia, mas não foi maldoso. Muitos de nós estamos sujeitos a errar e, certamente,  erramos bastante e até pior em situações semelhantes. Repetimos comportamentos e entendimentos incorretamente enraizados. 

João poderia ter resolvido essa situação na mesma hora, ou um pouco depois, pessoalmente. Rodolffo tem demonstrado ser sincero (dentro do que o jogo permite), aberto ao diálogo e, inclusive,  capaz de admitir os erros e se desculpar. Mas ele preferiu "descontar" ao vivo. É um direito seu. Mas será que essas palestras e aulas são dadas à todo o momento de sua vida, em circunstâncias iguais ou piores? Tenho minhas dúvidas. 

Assim como Rodolffo deve aprender a medir suas palavras e brincadeiras, e simplesmente acabar com essas atitudes quando vir que o outro não gostou, entendo que João também deveria entender que a exposição realizada da forma como foi tem uma repercussão gigantesca. E, queiram ou não, a repercussão recaiu somente sobre Rodolffo e sua atitude naquele instante, sobre aquele ato, e a causa em si passou a ficar em segundo plano.

É importante tratarmos sobre o assunto? Com certeza.

Foi feito da forma correta? Não creio.

O efeito manada não produz bons resultados nesse caso.

Não vejo com bons olhos crucificar pessoas por atos isolados e que efetivamente não têm a ver com racismo e preconceito apenas para validar a causa que, de fato, é extremamente relevante. 

Isso é o que eu penso com as informações que tenho hoje.

Ponto.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

PRENDAM O TIO DO ZAP



O  "tio do zap" é extremamente perigoso, ardiloso, irresponsável,  inescrupuloso, chato, burro, inconsequente ou, até mesmo, um bobo útil. Mas no frigir dos ovos, na maioria das vezes ele é criminoso.

Ele deveria ser preso. Merece ser preso. O problema é que ele é muitos.

O "tio do zap" pode ser o senhor da padaria, o taxista, o cobrador do ônibus, o farmacêutico, o vizinho, a professora, a colega de trabalho, o amigo do futebol, o instrutor da academia, o irmão da Igreja. O "tio do zap" pode ser seu pai, seu irmão, sua mãe, sua tia...

Temos "tios do zap" famosos, ocupando cargos importantes: Osmar Terra, um dos maiores "tiozões" que já pintaram nos últimos tempos. Temos também o tal Olavo de Carvalho, aquele que é filósofo sem ter estudado, que arregimenta fãs com seus discursos ensandecidos, sempre imersos em extrema burrice e ignorância.

Ah, os terraplanistas... classe especial de tiozões. Estão entre os mais estarrecedores.

Por incrível que pareça, além de enfrentarmos essa pandemia severa e aterradora, temos ainda que lutar contra os "tios do zap" nos hospitais e consultórios médicos, nos quartéis e delegacias, no judiciário, nos parlamentos, no congresso, no Planalto e por aí vai. 

Temos uma família inteira de "tiozões do zap" comandando o país. É surreal. 

As notícias dão conta da veracidade da mamadeira de piroca,  das provas incontestáveis de que a terra é plana, de que trabalhador não precisa de direitos, de que armas são melhores e mais importantes do que livros. De forma inacreditável o "tio do zap" convenceu o Brasil  de que alguém que está na política há 30 anos é sim, a nova política.

Mas o "tio do zap" tem feito mais, tem feito coisas piores: ele é contra a vacina, contra o isolamento, acha desnecessário usar máscara. 

Pro "tio do zap" não temos epidemia,  é só uma gripezinha. Pra ele,  o trabalhador tem que lotar ônibus e se expor ao vírus. 

Afinal, não tem como fazer lockdow de insetos, segundo ele.

O "tio do zap" não cobra nada do governo, pois ele entende que o povo tem que se virar. Auxílio-emergencial é bobagem, vai quebrar o pais. Assim empresários e banqueiros não aguentam.

O tio do zap" não vê corrupção em comprar o parlamento, em rachadinha, na compra de mansões com salários não condizentes. 

O "tio do zap" tira férias de dois milhões e meio de reais, e afirma que o Brasil está quebrado. 

O "tio do zap" quer privatizar pra que o povo receba de forma privada um serviço que ele não tem como pagar.

O "tio do zap" comprou 500 milhões de doses da vacina. E segundo ele é  frescura, porque o coronavírus não é tão letal assim. Aliás, foi dito que seriam 800 mortes, no máximo. 

O "tio do zap" tem certeza que esses mais de 300 mil brasileiros mortos são apenas números inventados. Segundo ele, alguém está ganhando com notificações falsas.

O "tio do zap" não toma vacina, porque vai estar ajudando a China a vigiar o Brasil. 

O "tio do zap" quer o golpe militar, porque ditadura traz liberdade. Segundo ele, Ustra foi um herói, e não houve tortura e nem mortes durante os anos de chumbo. 

O "tio do zap" é  um pobre rico, que luta contra os direitos trabalhistas,  contra o serviço público - exceto contra os milicos - contra o SUS e tudo que possa lhe favorecer, porque é preciso ouvir e atender o mercado. 

A maioria dos "tios do zap" não leem de verdade. São preguiçosos. São manipulados. Beiram a imbecilidade. Falam sobre o que desconhecem. Argumentam de forma tosca e absurda. São superficiais, porém, raivosos. Eles têm tenacidade. Levam a sério a missão de desinformar,  de escarnecer, de baguncar e serem ridículos. Atualmente parecem estar empenhados em matar.

O "tio do zap" é uma aberração. Ele é um assassino.

Prendam o "tio do zap".


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

UM LUGAR QUE CALA

A origem do termo “LUGAR DE FALA” é, levando-se em conta os textos mais populares e atuais, reconhecida como proveniente do feminismo dos anos 80. Consta que teria aparecido pela primeira vez no artigo “O problema de falar pelos outros”, de Linda Alcoff, filósofa panamenha, bem como em um texto da professora indiana Gayatri Spivak (ensaio “Pode o subalterno falar?”).mTrata-se de algo inerente a questões que versam sobra a “voz de minorias”.
Como não poderia deixar de ser em se tratando de luta por espaço e aberrações sociais da humanidade, o conceito fugiu ao entendimento original e ganhou análises e compreensões diferenciadas, além de usos práticos e intenções de uso.
Seguindo uma lógica que a meu ver é totalmente distorcida, há uma defesa de que apenas mulheres poderiam se manifestar sobre feminismo e machismo, por exemplo, e apenas negros e indígenas poderiam se manifestar sobre racismo, apenas LGBTs poderiam se manifestar sobre homofobia e transfobia, e assim por diante. Isso exige e define o “silêncio” de quem não possui “vivência”.
Contudo, é fácil de percebermos o quanto isso é uma aberração, pois o atualmente tão aclamado “lugar de fala” deve ser considerado para além do ativismo, já que as questões sociais e os posicionamentos acerca de cada uma delas não pode estar exclusivamente atrelado às vivências pessoais, existindo inúmeros outros fatores relevante que as impactam e permeiam. Portanto, “lugar de fala” é um estabelecimento de maturidade e consciência quanto à credibilidade e autoridade aposta ao discurso a partir DE ONDE SE FALA e não um autorizador ou inibidor de manifestações e opiniões.
A “autoridade” no lugar de fala nasce de uma qualificação a partir do conjunto de informações, pertença, vivências e estudos que se possui, pois ela não é inata E NÃO SE CONFIGURA por simples pertença, tampouco se dá exclusivamente por “vivência” ou por mero estudo formal. Dessa forma, é fácil entender que cada questão possui diversos e variados lugares de fala.
O fato de mulheres serem as vítimas mais óbvias do machismo, por exemplo, não as faz automaticamente a “única autoridade” sobre esse tema, que inclusive aflige a sociedade como um todo. Vejamos que o machismo é criado e exercido majoritariamente pelos homens.
Se falarmos do racismo, veremos que há negros com muito menos autoridade de lugar de fala que brancos, pois só o conhecem com a percepção do vivido, e o desconhecem teoricamente e tampouco em contextos diversos. Não raro, existem afirmações de alguns de que não possuem vivência alguma.
Portanto, essa absurda reivindicação de exclusividade no tocante ao “lugar de fala” nada mais é do que um autoritarismo às avessas, fruto de delírios ativistas e ideológicos.
É sabido que as minorias ainda ocupam poucos espaços políticos sendo, portanto, menos representadas e, por consequência, menos ouvidas. É nesse contexto que temos a importância do “lugar de fala”, que deveria ter como objetivo oferecer visibilidade a sujeitos/grupos cujos pensamentos são desprestigiados ou desconsiderados ao longo do tempo. Por isso, ao tratarmos de assuntos específicos a um grupo, como racismo e machismo, pessoas negras e mulheres possuem, respectivamente, “lugar de fala”, oferecendo e oportunizando um olhar sobre o tema que pessoas brancas e homens talvez não tenham. Contudo, isso não significa em hipótese alguma que se deva calar ou cercear o direito de manifestação das demais pessoas que não fazem parte desses grupos. Ao contrário, “lugar de fala” significa ABRIR ESPAÇOS PARA MANIFESTAÇÕES.
É um equívoco gigantesco achar que o “lugar de fala” tem como objetivo restringir a troca de ideias, encerrar discussões ou impor um ponto de vista, pois o que se deve buscar é oportunidade de que “excluídos” ou discriminados possam se expressar livremente em sociedade, buscando um tempo mais solidário e igualitário.
Reivindicar a superioridade absoluta da autorrepresentação, recorrer à interdição da fala que não se situa na minoria e à inspeção constante para verificar se essas duas premissas são integralmente cumpridas em todas as formas de expressão artísticas, científicas e políticas é praticar um novo tipo de violência social.
Isso é recorrente no âmbito da militância do “lugar de fala”, que tem crescido de forma totalmente intolerante e agressiva, tentando sufocar debates que são essenciais.
NADA que busca calar, suprimir ou castrar o diálogo e o debate pode ser considerado como benéfico ou democrático.
O “lugar de fala”, antes de tudo e também, deve ser lugar de “escuta”, de “troca”, de “tolerância”, de “empatia”, de “aprendizado” e de “evolução”.
Sim, tem gente militando errado sim.
Não façam do lugar de fala um novo fundamentalismo político ou mais uma ideologia rasteira e tola. Não queiram monopolizar a fala.
Não ajam como aqueles que tanto vocês criticam.
 
Caine T. Garcia
11/02/21
 

 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

TCHAU, 2020!

Adeus, 2020! "Não imagine que te quero mal, apenas não te quero mais!" (Lulu Santos).2020 entra para a História como um ano maldito. E que maldição ter que usar essa palavra. Abençoadas sejam as vezes que a pude evitar, mas 2020 exige uma exceção, pede algo mais forte que o caracterize.

2020 se estabelece como o ano em que fomos vencidos não só por uma doença, mas muito mais pela bestialidade humana. Talvez alguém não concorde com o "fomos vencidos", mas as mortes de mais de 190.000 irmãos brasileiros dão sustentação ao que digo.
O Brasil, em especial,  é um capítulo à parte nessa história tétrica. Negação e luta contra a ciência, descaso com a vida, polarização e ideologização indecentes. Isso tudo, falando somente na questão  "Covid", pois o país vai de mal a pior em termos econômicos, ambientais, culturais, sociais e políticos,  de uma maneira geral. 

O Brasil dança e festeja em cima de seus cadáveres. O Brasil toma sol e vai à praia beijar a morte. Infectamos de boas, na melhor das intenções. Não há álcool gel que limpe nossas consciências.

Tenho plena certeza de que 2020 é  resultado. Ele foi trabalhado insistentemente para ser exatamente assim. Trata-se da colheita do que tem sido semeado ao longo dos tempos, mundialmente falando.
Em nossa aldeia Brasil, calamidade social e cultural também é fruto das escolhas que expuseram as fraturas morais da alma da nossa gente. Se alguém tinha dúvidas de que o  brasileiro é, em grande parte, um povo preconceituoso, misógino, racista, egoísta, desunido, irresponsável, sem noção e muito mais, creio que tiveram suas dúvidas sanadas.

2020 foi um tapa na cara.Um soco na boca do estômago. Máscaras no rosto (muito aquém do minimamente necessário), mas almas nuas. Maldade escancarada. Uma era medieval brotando das mentes e das práticas mais surreais possíveis. O submundo da insanidade gritando pelas teclas de notebooks,  computadores, smartphones e afins, no flagelo das redes sociais. Cientistas de sofá. Terra plana em ascensão. Filósofos de barro. Elite em êxtase. Os mais lúcido desejando virar jacaré!

A cegueira nos encaminhou ao lodo. E cá estamos, atolados. Escolhemos falsos heróis. Abraçamos narrativas incoerentes. Tocamos para os loucos dançarem. Na guerra da desinformação, a mentira tem vencido. Não há somente gabinetes do ódio, pois ele está em toda parte e ganhou voz. Vivemos o ápice dos piores anos dos últimos tempos, e o povo é o único e exclusivo responsável por sua própria tragédia atual, ignorando fatos, defendendo o indefensável, pensando somente no jardim do próprio umbigo. Algo que se repete, sistematicamente.

A única alegria do rebanho é quando o lobo come a ovelha do lado, como bem já disse Arthur Schopenhauer.

Contudo, assim como qualquer arma, a tecnologia também foi a grande responsável por conseguirmos seguir com nossas vidas, num mínimo de normalidade. Através dela contornamos o isolamento, a tristeza, a saudade, a desumanização. Entramos em um território onde o vírus não nos alcançou, onde foi possível - virtualmente - abraçar, beijar, conversar, rir, chorar, amar e estar com os nossos. 

O isolamento tornou possível que saíssemos um pouco da bolha em que vivíamos, nos empurrou a reflexão. Aliás, penso que quem não refletiu em 2020, não o fará mais. A distância nos aproximou não só das pessoas, mas também jogou em nosso colo conceitos e verdades inarredáveis sobre o que realmente importa, sobre o que realmente tem valor, sobre amor, solidariedade e responsabilidade pessoal e coletiva.

No espelho da realidade, em geral, confirmamos que não  estamos prontos para viver em sociedade. Não de uma forma realmente decente e íntegra. Não sem explorar,  massacrar, denegrir, expor, prejudicar ou maltratar o próximo. Ninguém sairá melhor de 2020. As pessoas sairão como sempre foram. Mal é mal, bem é bem. A velha, universal e mítica luta de sempre. 

Não acredito em um novo normal, especialmente quando esse termo foi largamente usado de forma comercial, banalizado e mal direcionado. Aceitar isso, me cheira a conformismo, a padronização ao avesso.

Sobreviver nunca foi tão ousado, nunca foi tão importante, nunca foi tão difícil. Se possível, com sanidade mental. Sem romantizar, sem dourar a pílula. Precisamos de vacina no corpo e na alma.
O povo precisa ser seu próprio capitão, precisa SER HUMANO. Menos arminhas e mais pão, mais amor, mais solidariedade, mais educação,  mais emprego,  mais saúde, mais cultura, mais igualdade e justiça, mais infraestrutura,  mais ciência, mais ordem e progresso.
Tchau, 2020!!! Lutemos para que não haja uma versão estendida, por favor!!!

Imagem: Google/internet



terça-feira, 23 de junho de 2020

LENDA CHEROKEE

Há uma antiga e maravilhosa lenda dos índios Cherokee sobre o "ritual de passagem" de seus jovens filhos, que é mais ou menos assim:
“O pai leva o filho para a floresta, coloca uma venda nos seus olhos e o deixa lá, sozinho.
O jovem deve permanecer sentado em um tronco a noite toda, sem remover a venda até que os raios do sol o avisem que é de manhã. Ele não pode e não deve pedir ajuda a ninguém.
Se ele sobreviver à noite, sem desmoronar, se tornará um homem.
Ele não pode contar a sua experiência aos amigos ou a ninguém, porque cada jovem tem que se tornar um homem sozinho.
O jovem certamente fica aterrorizado, com os movimentos e muitos barulhos estranhos ao seu redor. Certamente existem feras terríveis à sua volta. Talvez, até mesmo homens perigosos que podem machucá-lo!
O vento sopra forte a noite toda balançando as árvores, mas ele continua corajosamente, sem tirar a venda dos olhos. Afinal, é a única maneira de se tornar um homem!
Finalmente, depois de uma noite assustadora, o sol sai e ele tira a venda dos olhos.
E é nesse momento que ele percebe que seu pai está sentado no tronco, ao lado dele, pois  esteve de guarda toda a noite protegendo o filho de qualquer perigo. O pai estava lá, embora o filho não soubesse.”

Com certeza nós também nunca estamos sozinhos. Na noite mais assustadora, no escuro mais profundo, em meio aos maiores perigos, nas situações mais difíceis, na solidão mais completa, ainda que não consigamos perceber, Deus nunca nos abandona. Ele sempre nos guarda, está sempre ao nosso lado.

Acredite, mantenha a Fé!


ALUNO DA APAE CANTANDO ALOK. A ARTE E SUAS MARAVILHAS


segunda-feira, 1 de julho de 2019

LIVRARIAS E CAFETERIAS


Quando viajo, existem dois locais que procuro sempre, independentemente da localidade em que esteja: livrarias e cafeterias.
Livrarias são um bálsamo: têm o perfume, a aura e o encantamento do saber, do aprendizado, da magia, da viagem, da ousadia, da afirmação e do inesperado. O cheirinho característico das folhas escritas que nelas habitam é simplesmente incomparável e indescritível. Os livros nos abraçam e nos transformam, nos acolhem e nos chocam, nos transportam a outros universos e nos mergulham na realidade.
Eu realmente tenho a sensação de que recebo "chamados" de livrarias (quando falo livrarias estão inclusos sebos e afins). Não raro ando sem "grana" para adquirir novos títulos, mas o prazer de circular numa livraria, estar no ambiente e ver as pessoas aguçando sua curiosidade, enchendo os olhos de alegria, transformando suas faces ao dialogarem sobre seus autores favoritos é realmente muito bom.
As cafeterias também me conferem momentos únicos de prazer: locais charmosos, misteriosos, aconchegantes, acolhedores (nem sempre tudo isso) e que são responsáveis pelo aroma mais gostoso e produto mais viciantes que conheço: o café.
Que dupla imbatível: livraria e cafeteria, livro e café.
Não sei vocês, mas a cada notícia que leio sobre o fechamento de uma livraria ou de uma cafeteria tenho uma dor no coração. São duas trincheiras, dois refúgios inigualáveis para o corpo e para a alma. O ocaso de locais como esses certamente é motivo de muita tristeza para os deuses do prazer, da sapiência, da empatia, da evolução, do conhecimento, da interação, de magia, do universo.
Penso que ao perdermos redutos como esses perdemos também um tanto de nossa humanidade.
Sim, livros e cafés sobreviverão, serão reinventados (já estão sendo), mas há toda uma nostalgia, um clima, uma liturgia que envolvem livrarias e cafeterias. Elas nos levam a rituais que deveriam existir para a eternidade.
Vida longa aos livros (impressos) e ao café (espresso) e seus habitats.
Mais não digo. Por enquanto.


Caine Teixeira Garcia
Imagens Google Internet


 

FORÇA E FÉ!

Sempre, em qualquer tempo, em qualquer lugar, haverá alguém contra ti, atuando nas sombras! Nessa hora exata, não valerá o teu talento, a tua bondade, a tua história e nem os teus valores. A intenção de impedir que tu prossigas, que tu prosperes, será maior que a verdade! Agirão contra ti e te abraçarão, e serão solidários em teu insucesso.
É assim desde o princípio dos tempos.
Os que te criticam, no fundo, se sentem ameaçados por quem tu és, especialmente se fores luzeiro. As pobrezas de caráter e de espírito não são raras no plano em que ora habitamos.
Ainda que desejes tão somente a simplicidade, mesmo assim serás, em algum momento, criticado, ameaçado, quem sabe até perseguido. Mesmo que pratiques a bondade de forma ininterrupta, terás tuas palavras distorcidas, tuas atitudes desprezadas, teus resultados desmerecidos.
Foi assim que ocorreu com a maior e mais pura alma que já existiu.
Contudo, o que esses seres sombrios não entendem, é que o talento, a lisura, o coração puro e a bondade possuem primazia sobre a inveja, a maldade e a má intenção. Quem semeia o bem possui luz própria, e sua colheita sempre será farta de coisas positivas, ao tempo de Deus. Portanto, não te abatas. Caminharás leve e vitorioso nos caminhos que um dia te foram negados pelos ímpios e invejosos, enquanto eles terão que dormir em travesseiros espinhosos, convivendo com a indignidade de serem quem são. Sigas pulsando e emanando luz e bondade, para que as consequências de teus atos e palavras reflitam exatamente o que trazes em teu interior.
Sejas paz e imensidão.
Fé na tua estrada e em ti! Sempre!

Caine Teixeira Garcia
Imagem Google Internet


NÃO SEJA ESSA PESSOA...

Não seja aquele que vive reclamando da vida, que vive agourando tudo, que nunca está satisfeito com nada.
Não seja o sujeito que tem "premonições" desastrosas, que põe areia nos planos, que emana negatividade.
Não assuma o papel de mala da turma, do chato da vez, do urubu insistente.
Seja grato.
Precisamos parar de vez em quando para podermos lembrar do quanto rezamos, pedimos e batalhamos pra chegarmos onde chegamos.
Já tivemos tantos dias difíceis...
Muitos sonhavam com um bom carro quando andavam somente a pé, e depois que conseguiram sequer guardam tempo para passear com a família...
Tantos desejavam a casa própria, com um jardim simples, e hoje que possuem sequer têm ânimo para cuidar da grama. Ou fazem do seu lar uma espécie de purgatório, causando sofrimento àqueles a quem deveriam amar e cuidar...
Quantos sonharam passar em um concurso público, para serem bem remunerados, terem maior segurança, e depois do objetivo alcançado tornaram-se relapsos, falam mal do próprio emprego e, não raro, tratam mal, com arrogância e com descaso àqueles que necessitam do seu trabalho.
Tantos queriam e sonharam a liberdade ou a independência e ao conquistá-las não souberam valorizá-las...
Quantos lutaram ferrenhamente contra a opressão e na primeira oportunidade que tiveram tornaram-se opressores?
Quantos estiveram numa cama de hospital, pedindo a Deus por melhora, por mais uma chance e após a graça concedida simplesmente esqueceram dos maus momentos, e ignoram quantas pessoas não tiveram a mesma sorte.
Tantas pessoas têm tanto e agem como se não tivessem praticamente nada... Esquecem e subestimam sua própria felicidade para invejar o próximo.
Quantos - inacreditavelmente - sentem prazer no pessimismo???
Quantas pessoas nunca estão satisfeitas com nada? Quantas pessoas são incapazes de enxergar o milagre de acordar a cada dia? Quantas pessoas são secas e inférteis para o amor, para a bondade, para a compaixão???
Qual a última vez em que agradecemos de verdade a alguém que nos ajudou?
Qual a última vez em que estendemos a mão sem esperar nada em troca?
Qual a última vez em que agimos com verdadeira humanidade?
Algumas pessoas adotam como regra viver um arremedo de vida, tornam-se esboços mal feitos de humanos, caricaturas indesejáveis de si.
Não sejamos essas pessoas. Nunca. Jamais. Esforcemo-nos.


segunda-feira, 3 de setembro de 2018

A GENTE NEM PERCEBE


A vida passa – e nos transpassa - e na maioria das vezes sequer percebemos.
Um dia simplesmente deixamos de dormir na cama de nossos pais - e era tão bom! Mas quando foi que isso ocorreu? Se aconteceu naturalmente, é muito difícil de lembrar.
Acredito que temos mais facilidade para lembrar de momentos pontuais que possuem os seus rituais, com “pompas e liturgias”. Lembramos das novas escolas, dos novos cursos, das formaturas. E, obviamente, dos traumáticos. Mas não quero falar de traumas, e sim dos últimos momentos e encontros que aconteceram de forma natural, de maneira trivial.
Lembra daquela turma que se reunia pra jogar vôlei na hora do recreio, do pessoal que saía junto pra “boate”, pra “discoteca”? Quando foi que isso parou de acontecer?
Qual foi o último dia em que jogamos bola na rua, no campinho da esquina? Quando foi que aquela turma tão especial deixou isso pra lá? Quando é que o futebol do final de tarde deixou de ter importância? Como não percebemos que aquilo não iria mais acontecer?
A vida nos entrega tempo e nos absorve. Nos obriga a prosseguir. Não apaga o passado, mas entorpece lembranças.
O que faríamos se tivéssemos a possibilidade, a dádiva de sabermos que determinados momentos seriam os últimos? Ou que jamais seriam como antes? Estou falando dos momentos simples, mas extremamente complexos na felicidade que representavam.
Se tivéssemos esse dom, provavelmente aquele último jogo com a turma do bairro fosse um momento mais do que especial. Talvez ao final houvesse abraços, reconciliações, revelações, lavação de roupa suja, pratos limpos e muita nostalgia. Só de pensar nisso dá uma aflição, num misto de bom e ruim, de ótimo e péssimo.
Aqueles colegas e amigos que marcaram nossas vidas e que foram tão presentes em nossa infância, adolescência e juventude: quando foi que paramos de encontrá-los? Quando foi que deixamos de dar importância? Por que não sustentamos os vínculos? Por que o destino nos tornou tão dispersos? Foi puro desleixo?
Onde estão aquelas pessoas que acreditávamos que iríamos encontrar sempre, da mesma forma e com a mesma habitualidade, mas que simplesmente não vimos mais.
Quando foi que pararam de nos chamar por aquele apelido que odiávamos, mas que no fundo era quase uma marca registrada? Quando foi a última briga em que nos metemos para defender aquele amigo de fé? Quando foi que deixamos de apertar a campainha dos vizinhos para sair correndo achando a maior graça?
Qual foi o último banho de arroio depois duma enchente, escondido dos pais (isso nunca deveria ter sido feito)?
Quando aconteceu a última fuga para uma festa?
Os agradecimentos que não fizemos. Os telefonemas que não demos. Os abraços que não distribuímos. Os sorrisos que guardamos. As aventuras que postergamos. As promessas que não cumprimos.
Mas principalmente tudo aquilo que fazíamos com tanta naturalidade e com tanto gosto e que simplesmente evaporou, sem momento marcado, sem aviso prévio, sem reflexão, sem “quem sabe um dia”. Onde isso tudo se perdeu, em que momento virou pó?
É temeroso pensar que a qualquer instante podemos estar indo para a última partida de futebol no campinho. Para o último jogo na rua. Para um último “até amanhã”! Para um derradeiro “tchau”!
Talvez não existam mágoas, arrependimentos, choro ou frustrações sobre isso. Na maioria das vezes esses momentos foram desprovidos de despedidas. Simplesmente aconteceram. Ou deixaram de acontecer.
Mas pelo menos para mim, quando paro pra pensar, certamente há um pouquinho de dor. E um outro tanto de vazio.
Pois aproveitemos. Sejamos os mais sábios possíveis dentro de nossa imensa ignorância. Realmente ninguém sabe o dia de amanhã.

Caine Teixeira Garcia
Imagem Google/Internet


sexta-feira, 20 de julho de 2018

LIVROS RUINS



Sou daqueles que acreditava que valia a pena ler qualquer tipo de livro, até mesmo os ruins, porque entendia que eles sempre trariam algum aprendizado, alguma descoberta, algo de novo. Nesse caso, a definição “ruim” é muito pessoal, logicamente.
Aliás, já fiz muito isso, ler livros ruins. Porém, de uns anos para cá – acho que isso acontece com a maioria das pessoas – eu percebi que não tenho mais tempo a perder com eles.
A vida passa muito depressa para perdermos horas e dias com livros ruins. O custo-benefício é zero.
Antigamente eu tinha uma certa agonia, porque começava a ler um livro e lá pelo meio – ou bem antes – eu percebia que não havia gostado do conteúdo, do texto, da forma da escrita, da mensagem, enfim: percebia que o livro não era do meu agrado. Mas, como bom brasileiro – na época – eu “não desistia nunca”! Lia até o fim. Prolongava meu sofrimento. Desperdiçava meu tempo, na esperança de encontrar algo de bom na leitura.
Hoje não. Já mais tarimbado, mais vivido e mais decidido, eu escolho não ler os livros ruins. Livros ruins são uma total perda de tempo. Livros ruins são uma tortura desnecessária, m flagelo de escolha. Eu escolhi não me autoflagelar.
Parece bobagem, não é mesmo? Agora transfira esse raciocínio para os relacionamentos (amorosos, de amizade, de trabalho, etc). Certamente, a coisa fica mais séria.
Pessoas ruins não devem fazer parte de nossas vidas. Relacionamentos ruins não merecem nosso tempo. Mesmo com capas e títulos maravilhosos, um índice pomposo, uma introdução perfeita, pessoas e relacionamentos sempre se revelam. Seu conteúdo sempre vem à tona. Eu sei, é bem mais complicado do que lidar com livros. Às vezes é preciso “ler” um pouco mais, às vezes o conteúdo parece que vai ter um direcionamento e final mais promissores. Ler pessoas requer habilidade, e quanto mais maduro e experiente, mais habilidosos ficamos. Nossos erros passados também ajudam muito nesse caso.
Talvez não seja possível por de lado esses “livros ruins”, especialmente nas questões de trabalho, familiares, etc. Mas podemos apenas fazer de conta que eles estão lá, numa prateleira, da qual nunca os tiraremos para estudos mais aprofundados.
Pessoas ruins são nocivas. Eles merecem somente o pó do esquecimento. Nada de rasgar suas folhas, jogá-las fora, queimá-las em praça pública. É necessário apenas que as deixemos de lado, na estante do esquecimento, na biblioteca da indiferença. As traças do tempo farão seu trabalho com perfeição.
Por isso, um dos conselhos que eu dou hoje é esse: não perca tempo com livros ruins. E nem com nada ruim. Se estiver desconfortável, mude, troque, venda, ponha de lado, esqueça, vá adiante. Se não for possível nesse momento, trabalhe e se esforce para que seja possível logo. Livre-se desses fardos.
Se o filme estiver ruim no cinema, levante e vá passear na rua, tomar um sorvete, olhar as vitrines. O dinheiro que pagamos não vale o tempo perdido. Se o noticiário estiver ruim, troque de canal ou apague a televisão. Se a comida do restaurante não estiver boa, troque por um café. E sem fazer alarde. O tempo desperdiçado reclamando também é precioso. Nós podemos, sim, perder a elegância de vez em quando. Temos esse direito. Só não podemos fazer disso uma regra. Isso é exceção. O incômodo é exceção. A regra é ser feliz (tentarmos, pelo menos).
Não fazer absolutamente nada contra a nossa vontade é impossível. Vivemos em sociedade, somos seres humanos normais. Mas podemos impor limites a muitas coisas. Podemos nos colocar em primeiro lugar em várias situações. Podemos – e devemos - sim, privilegiar e valorizar mais nosso tempo.
Definitivamente eu não tenho tempo para livros ruins. “O Alquimista” em minha estante que o diga. Foram inúmeras tentativas de leitura sem sucesso. Deixei-o lá. Ganhei outros títulos da mesma lavra, com os quais também não logrei sucesso. Belas apresentações, material sedutor. Mas só isso. Estão inertes em seu canto.  Não os prejudico, nem eles me fazem mal. Ficamos assim. Perto, porém, distantes.
Eu tive a mesma atitude com inúmeras situações e pessoas que não agregavam em minha vida, cujos conteúdos não me conquistaram.
Algumas coisas podem realmente ser encantadoras para outros, mas nessa vida eu não tenho tempo para elas.
O que é bom não necessariamente vem acompanhado de pompa, de renome, de enfeite, de mídia, beleza, poder ou grandes autores. O que é bom para nós, simplesmente é.
Guarde seu tempo paras as coisas boas da vida. Priorize. É perfeitamente possível sabermos quais são, às vezes precisamos apenas de um pouco de coragem e atitude. Acredite, isso muda nossa vida para melhor.
Fuja dos livros ruins, dos filmes ruins, das comidas ruins, do papo ruim, das pessoas ruins. Sejamos a soma do que vimos, lemos e vivemos de melhor. Encontre-se com seu tempo. Desfrute dele. Sem culpas. Ele é o principal, e passa depressa demais. Isso eu garanto.

Caine Teixeira Garcia
Bagé, 20/07/2018

Imagem Google/Internet




sexta-feira, 29 de junho de 2018

RICO AOS 40

Obviamente, em qualquer momento da vida, deve ser ótimo ser rico.
Mas imagine ser rico aos 40: as pessoas já não nos enganam tão facilmente, sabemos diferenciar bajulação de comprometimento, identificamos de forma mais precisa quem sim, quem não e quem nunca.
Aos 40, vivemos como um meio-campista habilidoso e experiente: corremos menos, mas produzimos mais e melhor, embora ainda tenhamos fôlego para os “piques” necessários. Antevemos jogadas, arriscamos com mais objetividade, somos donos de uma cadência mais precisa e cada lance tem exatamente a nossa cara, a nossa impressão, o nosso manifesto.
Imagine só que maravilha ser rico aos 40, quando a gente finalmente enxerga além das aparências, quando percebemos que a beleza que vem de dentro realmente é infinitamente superior a um corpo bem delineado, um par de olhos estonteantes ou uma boca sensual. E sim, essas coisas seguem sendo interessantes. O que muda são os critérios, as prioridades.
Certamente deve ser uma bênção ser rico num estágio da vida onde a gente percebe com clareza a diferença entre perda e livramento, entre o inevitável e a escolha, entre sucesso e ilusão.
Os 40 nos trazem a maturidade de saber quando partir. De perceber quando ficar. Aprendemos a importância do silêncio e o peso da fala.
Temos a consciência plena de que sempre podemos ser melhores. E, via de regra, ainda temos um tempo razoável para praticar isso.
Aos 40, o café tem outro gosto, a pizza tem mais sabor, o mundo tem mais cor. Pequenos e singelos momentos ganham grande relevância. E somente é assim porque a vida já nos ensinou de forma bastante incisiva o valor de cada coisa e de cada instante. É bem possível que já tenhamos aprendido que perdoar é uma bênção que traz infinitamente mais benefícios a quem perdoa.
Provavelmente já tenhamos entendido que na maioria das vezes o passado só nos fere quando assim permitimos. Que o dia de hoje realmente é um presente. E que o futuro, apesar dos pesares, depende única e exclusivamente de nós.
Aliás, não devemos esperar muito do passado... o que vem de lá não traz novidades. Os 40 nos ensinam a sermos seletivos o suficiente, no sentido de armazenar o que serve e deixar definitivamente para trás o que é pó. Somos obrigados a levantar âncora e fugir dos escombros.
Nesse período do vida já absorvemos e compreendemos plenamente a sabedoria da natureza, que fez o ser humano com dois olhos, dois ouvidos e somente uma boca. E esse é um aprendizado muito valioso.
Já pensou? Imagine ser rico aos 40... com marcas e feridas já cicatrizadas, cada uma delas lembrando e representando um momento importante que forjou o que somos e o que nos tornamos.
Quem já constituiu família tem parceria pra vida, pra dividir problemas e conquistas, pra comer pipoca assistindo um jogo, roncar enquanto o outro está vendo o filme que foi convidado/obrigado a olhar, pra xingar em dupla a conta da luz e o salário que não dá até o final do mês. E pra escolher em equipe qual será a “indiada” nas férias.
Nesse caso, é possível aproveitar melhor os filhos e ter a certeza de que cada conquista deles é infinitamente mais importante e gratificante do que as nossas. Finalmente temos a dimensão do que é amor de verdade. Dependendo da idade, os filhos finalmente entendem porque os pais são tão chatos antes e porque certamente continuarão sendo.
Ao 40 aprendemos a abandonar ciclos. Compreendemos que “tudo bem” se não for possível ter reciprocidade em relacionamentos. Não somos responsáveis pelo amor do outro, mas sim pelo amor que somos capazes de entregar. E se no auge de nossa entrega a pessoa não for capaz de perceber a importância e o valor disso, aceitamos que o problema não está em nós. Não podemos e não seremos definidos por aquilo que os outros fazem ou deixam de fazer, e não seremos eternamente feridos por sua incapacidade de amar.
O adeus dói, mas também é libertador. Não devemos fazer morada – nem mesmo repousar -onde não somos bem quistos, onde não somos desejados de verdade, onde sejamos forçados a “caber”.
Aos 40, abandonamos a autossabotagem. Dessa forma, muitos optam em seguir “sozinhos”. E são felizes, porque aos 40 eles já sabem exatamente quem são. E isso é suficiente para seguirem adiante, vivendo plenamente. A “metade da laranja” é uma lenda, que nessa idade já não assombra ninguém. Pelo menos ninguém em sã consciência.
Buscamos ser melhores do que aqueles que nos antecederam. Pra muitos o “eu te amo” ainda é uma frase difícil, mas tentamos. Exercitamos. E somos melhores na arte de amar, nos doamos mais, nos entregamos mais. Somos mais humanos. Somos mais gente. Mais sinceros. Portanto, mais íntegros.
Imagina, ser rico aos 40...
Saber e querer ficar em casa, sem a angústia do mundo exterior. Ter alguém que nos proteja, que faça tudo por nós. Ter alguém para quem sejamos inspiração, exemplo. Ter alguém pra dividir e pra somar. Encontrar felicidade num sorriso, num abraço, num chimarrão.
Ou simplesmente termos a nós mesmos. Acharmos um ponto de equilíbrio. Entender que muito pouca coisa é imutável de fato.
Não, a vida não é menos importante, ou “menor” antes dos 40. Ao contrário. Ela é maravilhosa, e é simplesmente maravilhoso constatar que segue sendo ótima e que pode melhorar ainda mais.
A imagem no espelho já não tem o mesmo viço, mas certamente ganhou mais experiência. As rugas abandonam padrões, nos libertam de estigmas. Já vivemos o suficiente para saber que não temos tempo a perder. Já perdemos pessoas suficientes para aprender que o dia de amanhã é incerteza pura. E que não devemos deixar para esse amanhã o abraço que podemos dar hoje.
Não, meu amigos. A vida não começa aos 40. Nessa fase já vivemos muito. Os 40 são uma espécie de consolidação, um pouco de colheita daquilo que plantamos até esse momento.
Ah, ser rico aos 40 deve ser demais.
Contudo, certamente o mais importante e interessante é chegar nessa fase da vida sem grandes – ou nenhum – arrependimento. É saber que até esse momento temos feito tudo da melhor maneira possível. É lutar os bons combates, defender as boas causas. É ter hombridade suficiente para corrigir erros, voltar atrás e dar um passo adiante de cada vez. E, finalmente, poder afirmar que, pondo de lado a falta de dinheiro (e isso é somente um detalhe), na realidade, já somos milionários. 


Caine T. Garcia



sábado, 9 de junho de 2018

PRÉ-VENDA "UM POEMA NO SUL"


MORTE

A morte é um atropelo, uma verdade de mau gosto.
Nos acompanha passo a passo, nos absorve dia a dia.
A velha morte é um novelo, que se desenrola a contragosto.
É matéria que fica tapera, numa oração sem serventia.
É a sombra que não vemos... é a sobra que não vencemos.
A morte é uma viagem indesejada, um inimigo de convivência imposta.
É um desvario, uma insanidade... certeza que paira sobre a humanidade.
É o fim de uma caminhada, é fragilidade que fica à mostra.
Vive à espreita de nossa saúde, ora por nossas mazelas e desesperos.
Dorme ao nosso lado, habita nosso mundo, na busca por sono eterno.
Anseia por nossos descuidos, afronta os nossos desejos.
A morte debocha da vida, pouco se importa com céu ou inferno.
A morte é um verso mal escrito, uma voz desafinada...
É instrumento indefinido, melodia mal acabada...
É existência proscrita... é dança vil e descompassada...
A morte é uma traidora, beijando faces sem nem ganhar trinta moedas.
Sim, morte, o teu beijo não vale nada, mesmo custando vidas.
Não há conforto na dor, não há amparo na queda...
Não existe azar e nem sorte, somente final e partida.
Sim, morte, tu és bem pior do que Judas Iscariotes.
Paz aos que se foram... mas a morte não nos merece.
Luz para os que ficam, a morte é só uma ironia que acontece.


Caine Teixeira Garcia
Imagem: Google/Internet